terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Solitudo

(Arte: Daniel Murtagh)

Este curto e breve ensaio tem como objetivo refletir e demonstrar a importância intrínseca da solitude nas relações humanas, bem como destacar sua fatalidade quando não ascendida. Trata-se de uma virtude atemporal que, aparentemente, diluiu-se em nossa acelerada e confusa vida moderna.

Em um mundo contemporâneo e cada vez mais líquido, a solitude passa a ser uma espécie de terror e obscuridade incompreensiva ao não vivente de tal estado. Quando avulto em meio a uma relação conjugal, aquele que é provido de tal potência exacerba uma independência incômoda ao carente de tal característica. A perturbação entre dois mundos ganha uma nova  - mas não desconhecida – força. A alegria e a autonomia do outro tende a tomar forma, corpo e roupagem, pois para o desprovido de tal característica a única conclusão é de que existe o outro alguém; o achismo tende a ser um de seus viciantes alimentos.

São imensas as inquietações e incômodos que a solitude, inevitavelmente, nos provoca. Constantemente, homens e mulheres de desdobram por não compreenderem a si mesmos e muito menos compreenderem que o outro possui a virtude humana de estar bem consigo mesmo. Tais indivíduos, que são desnutridos de si mesmos, quando imersos em um relacionamento amoroso, não conseguem fugir da ideia ou do sentimento de que estão sendo traídos, pois para eles é incompreensível que o outro nutra-se por si só. São essas e outras redundâncias que advertem como a solitude e a solidão são insustentáveis em um mesmo terreno da vida humana. Cada ser, a priori, deve (quer queira ou não) solidificar-se por si só. Em contrapartida, não há livre arbítrio ou liberdade que nos abstenha da dependência que temos uns dos outros.