domingo, 26 de abril de 2015

Medinho

(Arte: Mojo Wang)

Estava eu em meu lugar, em mais um daqueles dias expressivos onde a minha função era engordar a economia e os multimilionários, fofos e lindos. Estava eu refletindo. e finalmente voltando pra minha casa depois de um dia de servidão moderna, e assim como qualquer pessoa, questionando os valores colocados sobre a sociedade e tudo mais - algo que costumo fazer algumas vezes por dia. E analisando toda a movimentação de luzes artificiais passando entre meus olhos, decidi me tornar um pouco mais introspectivo e presente para uma reflexão um pouco mais profunda sobre mim, sobre o mundo e seu constante "destino". Sentado ali num desses ônibus da cidade, iniciei uma reflexão - tão comum no meu dia dia - sobre a existência. Analisando ali, as luzes fora do meu corpo e da minha parte separada de todos, percebi que meu corpo de fato vivencia uma vida limitada e linear, longe de buscar a delirante perfeição. Tendo essa percepção de que meu corpo vivencia uma morte linear a cada dia, também percebi que o tempo vivenciado pelo meu corpo é diferente do meu estado de consciência. Nosso estado de consciência não segue uma linearidade, apenas se moldarmos essa condição. Inquieto de pensamentos transitórios do passado, do presente e do futuro, tive uma sensação necessária em juntar a minha mente com o fluxo linear do meu corpo. E logo (deslumbrado!) percebi que não existia nenhuma separação entre eu e mais nada; Eu era tudo o que vivenciava, eu fazia parte de cada micro átomo e micro vida que existia em todos os lugares. Não existia um "eu", nem um outro, nem um algo; eramos uma infinita teia de aranha, mas sem a aranha e sua inteligente arte de matar. Por circunstâncias tão acidentais, vivenciei um estado de consciência tão único e importante em minha vida, e que me trouxe mais uma reflexão profunda e enigmática.

Embora tenha essa concepção de que não há separação de nada, também admito que o meu ser (individual e egoísta) muitas vezes deseja ser separado, deseja ser único, deseja ser atendido pelo mundo, deseja atenção exclusiva, deseja ser memorável, deseja ter tudo sem um mínimo esforço. Desejos e desejos, realizados ou desfigurados pelo medo, deseja constantemente, pois vive na constante busca do equilíbrio sobre o que é ser um ser e o que é simplesmente ser, mas que é inevitavelmente tomado pelo natural e tão humano medo. Creio que ninguém poderá me responder isso, talvez nem eu mesmo, mas só essa busca (ao meu ver interior) me torna uma pessoa apaixonada pela vida e disposta por tentar fazer o restante das outras vidas - o todo - melhor. E é isso que venho aprendendo nesses últimos anos: se o meu indivíduo na verdade é só um estado de consciência, por quê então agredir, por quê então odiar, por quê então desprezar, por quê destruir, por quê oprimir, por quê então separar e por quê então matar a mim mesmo?

Isso tudo é medinho.

domingo, 5 de abril de 2015

Imersão


Você tem medo de ficar em silêncio? Você tem medo de observar os seus próprios pensamentos? Uma coisa é observar o mundo e o comportamento dos outros; outra coisa é observar a si mesmo e como o seu corpo e sua mente estão se comportando diante de tudo. Qual a dificuldade? Tem medo de morrer? Tem medo de descobrir algo dentro de ti que pode ser perturbador? Tem medo de que alguém te desvende? E se olhar mais profundamente pra você mesmo e reconhecer que existe uma criança, frágil e desesperada, qual o problema? É você ou não é? Se é você, por quê então se esconde de si mesmo? Por quê fingi ser o que não é? Por quê prefere julgar os outros do que você mesmo? Qual a dificuldade? Tens medo de ser desmascarado?

Não se preocupe. Ninguém sabe quem é você, nem você mesmo. Nós temos boas (e horríveis) suposições do que são os outros, mas nem nós mesmos sabemos. E mesmo que você diga o que é e como se comporta, cedo ou tarde, os fatos e suas atitudes podem lhe entregar e te desmistificar. Então não tente fugir: encare! Se tiver coragem, claro.
O grande sofrimento é não aceitar o seu "eu", errante e imperfeito. O seu "eu" individual, mas tão composto pela unidade.

Observe, estude, entenda, sinta e morra pro seu velho "eu" todos os dias. Construa todos os dias uma nova visão, e se for conveniente, abra o seu corpo - o seu templo - para a vida. Mas lembre-se: isso é apenas uma ideia, sendo possível julgá-la, repudiá-la, negá-la ou aderi-la.

Possibilidades são eternas, nossas vidas não.

Cuidado(s)

(Arte: Adara Sánchez Anguiano)

Pelo conhecimento que adquiri (apenas colocando que tenho esse conhecimento, não que ele seja admirável ou virtuoso, pois ele está passível de erro) coloco persistentemente a ideia de que precisamos acostumar a nossa mente (e o nosso corpo) a estarem presentes - sem uma interferência agressiva do passado e desespero pelo futuro - embora também admito que essa conscientização não é realmente fácil, principalmente se não temos uma orientação adequada e um direcionamento relacionando a isso, o que pode ocasionar em uma distorção de ideias ostensivas e forçadas. Também acredito que essa ideia se torne ainda mais difícil quando temos um transtorno diagnosticado. Em suma, procuro ter essa conscientização, mas sei que não posso me prender na ideia de que vou me tornar melhor com isso: acredito que é importante vivenciar, dimensionar e estabelecer esse estado da forma mais sutil possível, sem forçar as circunstâncias, respeitando a mim mesmo. É importante também admitirmos que, embora desejemos, não temos controle sobre a maioria das coisas em nossas vidas. Acho essencial procurarmos ajuda de pessoas especializadas nesse assunto, pois através delas podemos descobrir um mundo magnífico e repleto de detalhes sobre nós mesmos, o que muitas vezes não conseguimos enxergarmos sozinhos. Enfim. Que possamos nos conhecer com profundidade, cada um no seu devido momento e do seu jeito.

Pensar = Não Amar

(Arte: Malcolm Liepke)

O amor é definido há tempos, de milhares formas ridículas e primitivas (e talvez algumas interessantes). O amor é usado como desculpa para usarmos, prendermos, escravizarmos, possuirmos, controlarmos e matarmos uns aos outros. De fato, o amor (não gosto de usar a palavra amor, mas não sei como de outra forma) é um estado humano que não pode ser definido no campo da racionalidade, mas que é inegavelmente presente em toda a nossa natureza. A mente humana trabalha muito para o aperfeiçoamento da vida terrestre, ao mesmo tempo que também se esforça muito para se auto destruir, mas não há inteligência, ao meu ver, que consiga entender o que é isso: o que é o amor. Acho que até podemos chegar muito longe em nossas interpretações sobre o assunto, mas a parte mais inédita sobre isso só pode ser sentida e vivenciada plenamente.

Que o amor seja vivenciado por todos nós, seja lá como cada um o defina. Que o "pensar" seja substituído por "estar", independente de suas consequências.

Sem passado, se futuro: Atemporal.