terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vamos Falar Sobre Nós

(percezione visiva)


Em minha individual e constante busca por adaptação na vida presente (e em minhas relações pessoais) é frequente a tentativa de querer impressionar as aparências de quem, aparentemente, deseja envolver-se intimamente comigo, e que, naturalmente, me interesso. Reconheço essa minha postura como uma fuga, uma característica da vaidade, então busco, desde o conhecimento dessa condição, tornar-me cada vez mais fiel ao que sou e ao que demonstro ser, e assim, se possível, estabelecer minhas relações. Também busco humanizar-me, embora, constantemente, limito-me aos padrões e aos conceitos que já perderam os seus prazos de validade com a Verdade.

De fato, por mais que finjamos, existe uma realidade mística e um diálogo silencioso sob os olhos humanos. Talvez por sermos demasiadamente civilizados, nos tornamos um tanto quanto infiéis ao que realmente somos e, inevitavelmente, nos escondemos sob nossas peles. Particularmente, medito sobre esse viés da humanidade, mas também estou incluso nessa quase submissão coletiva, então, vulneravelmente, estou (assim como todos nós) a mercê de equívocos, falhas e de um comportamento inadequado (que assim seja por toda minha existência!).

Instintivamente buscamos um relacionamento ou alguém que nos complete, ou que preencha uma angustia e uma lacuna invisível. Buscamos sem parar, sejam por nossas experiências ou por crenças. Naturalmente, sempre buscaremos alguém para que possamos nos “completar” ou nos sentirmos mais completos, embora existam indivíduos que optam pelo isolamento, assim como monges budistas, tibetanos, etc. em suma, é reconhecível essa tão natural característica e busca humana, mas é evidente, ao meu ver, que as buscas estão confusas, distorcidas e sendo realizadas de maneira destrutiva. O desejo natural de constituir relações está absolutamente individualizado, então, fugimos e não nos relacionamos, por assim dizer.

 A busca, também, por segurança, conforto e tranquilidade é incessante, então, consequentemente, o medo é regente. De um modo geral, não conseguimos segurar (ou maneirar) nossa “necessidade” de nos expormos ao mundo e aos que estão a nos observar. Estamos, compulsivamente, tentando nos afirmar sobre a realidade e, de uma maneira absoluta, nos incluirmos a ela mais do que, de fato, estamos. O grito que não ouvimos, mas é evidente nas mais diversas formas de expressões humanas é: “EU EXISTO! ”.

Acredito que não existe uma forma objetiva de se dizer qual é a melhor maneira de se relacionar com o mundo e com as pessoas, tão pouco qual é a melhor forma de se viver em sociedade, visto que cada indivíduo se relaciona empiricamente ao seu modo e tem sua experiência existencial também única, entretanto, podemos afirmar que o ponto inicial das relações de cada indivíduo é ele mesmo: o observador. Sendo assim, é fundamental que cada indivíduo aprenda (ou reaprenda) a tomar consciência de si mesmo diante de sua observação. No meu ponto de vista, e fundamental que cada indivíduo, mesmo se sentindo incapaz de realizar essa ação, busque centralizar-se diante da realidade. É fundamental que cada indivíduo, mesmo passando por maus bocados, mesmo sofrendo, mesmo tendo algum tipo de dificuldade crônica e permanente, aprenda a se desvendar por si mesmo, libertando-se, assim, de toda essa auto enganação, de toda essa auto sabotagem, de toda crença ilusória e de todos os medos que lhe afastem de sua essência. Não é individualizar-se: é tomar consciência do que naturalmente é. Não é fugir da interação com o mundo: é encarar empiricamente o mundo. Não é tornar-se melhor: é tornar-se.

Observar por si mesmo é atemporal.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cadáver


No âmbito das relações humanas e da interação do individuo com o mundo empiricamente observado como separado e material, é imprescindível que cada um de nós tenhamos a condição de atualizar todo conhecimento adquirido contemporaneamente. O indivíduo que é autocondicionado e influenciado (ou simplesmente nasceu e se tornou o que é agora) a um conhecimento que, consequentemente, amadurece e fortalece suas mais profundas potências (vulgo habilidades e talentos), deve - pelo bem de sua própria existência e pelo bem de toda sua rede de alcance humana - se atentar às modificações e atualizações de ideias existentes na consciência coletiva. Isso não implica que o individuo necessite buscar um conhecimento de larga escala, ou de muitas áreas especificas da vida, tão pouco de outras linguagens, mas sim, de se atualizar e de atualizar sua própria condição sobre a existência. 

Qualquer indivíduo que permanece intacto e convicto de uma ideia desatualizada e, dominantemente enraizada em sua moldura de visão sobre a realidade, está a mercê de perecer antes mesmo do seu próprio corpo.

Ceticismando


Esses meus últimos 2 anos de vida me proporcionaram um conhecimento bastante interessante. Meu interesse pela psicologia, neurociência, filosofia e claramente pelo comportamento humano, trouxe um novo contexto para minha observação, mas também um visível (e inevitável, claro) desprezo em meu círculo afetivo, talvez pelo fato do meu ceticismo ter, finalmente, tomado grande força dentro de mim e que, provavelmente, muitas pessoas que antes se entusiasmassem com minhas reflexões, agora estão, literalmente, com o pé atrás. 

De um certo modo, esse desprezo me inquieta, mas como toda ação gera uma reação, tenho consciência de que não nasci para agradar ninguém. E isso, para mim, não é motivo para tristezas, rancor ou qualquer reação melancólica, visto que tudo adquirido até o momento me serviu de conhecimento e inspiração. Não querendo tirar minhas responsabilidades sobre a vida (nem o peso), mas é fato que ainda sou um pequeno conhecedor das coisas mundanas e devo aprender tudo com muita calma, clareza e atenção, no meu devido tempo e no meu devido lugar.

Embora o autoconhecimento seja minha crença fundamental, não deixo (e nem deixei) de acreditar em muitas coisas. Porém, inevitavelmente, cheguei a conclusão (não tão recentemente) de que todos nós precisamos entender nossas intenções com o que buscamos, por nós mesmos. Precisamos, ao meu ver, desconstruirmos tudo aquilo que acreditamos e que tanto colocamos como importante. Que fique bem evidente essa minha abordagem: não é imposição, mas sim, reflexão. Então enfatizo essas minhas colocações como uma forma de expressão com mais claridade o que tento ser ou busco ser diante da existência.

Quando me deparo com equívocos, quando percebo que minha visão está distorcida - sejam lá os motivos que me levem a isso - inevitavelmente, procuro desconstruir e reconstruir tudo o que aprendi e o que foi me ensinado até então - ou aprendi empiricamente. Não nego, nem desprezo qualquer fonte de conhecimento colocada diante de mim, mas é inevitável que tudo não passe pelo filtro de minha essência, então, assim como todo ser humano, concordarei e descordarei. De qualquer forma, procuro sempre amadurecer e me aperfeiçoar nesse sentido pra que qualquer forma de conhecimento não passe em branco.

Que cada indivíduo adquira (ou reative) sua capacidade de pensar por si mesmo, e que suas crenças lhe proporcionem esclarecimento e amadurecimento diante da vida.

Andando Pelas Ruas de Bauru


Andando pelas ruas de Bauru, tendo um contato mais próximo com a rua e utilizando o transporte público também, percebo uma condição defensiva generalizada nos que compartilham deste comigo. No transporte público, é muito visível o desconforto que as pessoas sentem em terem que compartilhar um veiculo com desconhecidos. Sempre têm aquelas pessoas que sentam na ponta dos bancos duplos para que outras pessoas não sentem ao lado; isso é visível! Vejo que é evidente o desinteresse e o desconforto na interação urbana, embora tão inevitável para o nosso desenvolvimento. De um modo geral, nós nos sentimos ameaçados com a existência do outro. Nós não nos sentimos seguros com a interação humana. Presamos pela segurança física e psicológica, mas negamos claramente a importância da interação com o outro: negamos empatia e negamos o sacrifício que é a interação. Nos relacionamos superficialmente como se fossemos fechar um contrato de relação humana, mas não nos relacionamos; é uma relação parcial, incompleta. É assim que vejo, embora me esforce para que nossas relações não sejam apenas isso.

Faço essas constantes observações, mas também, antes de qualquer conclusão e julgamento, observo se tudo isso também é pertencente a mim. Posso não reagir e me comportar com as descrições que fiz. Posso buscar uma adaptação onde favoreça meu bem estar e também dos outros, mas é evidente que há uma influência, seja ela positiva ou negativa. Há uma sensação e um medo coletivo, porém noto que tudo isso é decorrente de um histórico e de uma exposição de fatos sobre retalhações, agressões e todos os tipos de ameaças da natureza humana que nos aterrorizam, então, constantemente há uma sensação de perigo e de preocupação, mesmo que, naquelas condições empíricas não hajam quaisquer evidências de perigo ou ameaça a nossa integridade física.

Nós não estamos aqui. Nós estamos no passado. Nós estamos no futuro, mas nós não estamos aqui, no presente. Nossas cabeças voam pra lá e pra cá, ansiando por um futuro melhor ou se prendendo a nostalgia de uma bela lembrança. Habituamo-nos a estarmos não presentes: essa é mais uma condição humana.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Afinal


Se você não vê vida em si mesmo
O que é, afinal, viver consigo mesmo?

Se você foge do seu autoconhecimento
O que é, afinal, conhecimento?

Se você quer tanto alguém
Por quê, afinal, não queres ir além?

Se você foge do seu próprio olhar
Por quê, afinal, quer se libertar?

Se você não é você
Afinal, o que é você?

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Leve É A Alma

(Arte: Lamia Ameen)
Leve é a alma
Que te observa
Te acompanha
Por essa vida bem estranha

Leve é a alma
Que te ensina
Que aprende
Consciente do latente

Leve é a alma
Que te explica
Te orienta
Que te levanta
Te aumenta

Leve é a alma
Que te cobre de atenção
Mas às vezes te diz não
Pois não vive em ilusão

Leve é a alma
Que transmite a sua luz
Que não reduz
Que te conduz

Leve é a alma
Que tolera
Que suporta
Alma louca
Alma torta

Leve é a alma
Que vive aqui
Que vive agora
Sem peso
Sem esmola
Enriquecendo
Dentro e fora

Leve é a alma
Que te deixa ir embora
Que não espera a sua demora
Que não despreza
Que não implora
Compreende a sua hora
Mesmo não sabendo
Que o eterno
Apenas existe
No agora

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

(?)

Observar
Interiorizar
Refletir
Manter (?)
Dissolver (?)
Agir (?)
Transformar

Então Você Nasceu

Então você nasceu
Foi cadastrado
Classificado
E separado como indivíduo

Então você cresceu
Foi educado
Disciplinado
E separado como cidadão

Então você venceu
Foi doutorado
Casado
E separado como vencedor

Então você sofreu
Foi traído
Divorciado
Desempregado
E separado como sofredor

Então você pirou
Foi julgado
Humilhado
E separado como perdedor

Então você morreu
Dilacerado
Desfigurado
E separado
Pela própria dor
Pelo próprio medo
De ter nascido
De ter crescido
De ter vencido
De ter pirado
E de nunca ter percebido
Que o próprio indivíduo
Separado
E corrompido
Nunca se separou
Nunca cresceu
Nunca venceu
Nunca sofreu
Nunca pirou
Apenas não se olhou
Nem se eternizou

Death is Coming

"Death is coming
The time is ending"
Your body already knows it
No need to state

Let time go there
Stay and feel where you are
So you can move
Body and mind
In the same place


domingo, 16 de agosto de 2015

Spazio Per Più Di Un Luogo

(Arte: Lucy Salgado)
Embora muitos venham a me rejeitar
Talvez até me evitar
Me odiar
Minha natureza jamais poderei negar


Embora eu acredite que seja uma questão de interpretar
Sem orgulho
Sem conceito
Sem padrão
Sem julgar
Coloco aqui o que venho a provocar


Há uma energia enorme dentro do meu ser
Querendo compartilhar
Querendo ensinar
Tudo que sou
Tudo que sei
Através desse meu "eu" peculiar


Mas talvez eu tenha medo de ser vulgar
E aparentar ser alguém sem se importar
Com a vida humana
Com o bem estar
Com a presença amiga
Em qualquer lugar


Talvez até pareça que eu não queira compartilhar
Uma simples dança
Um simples abraço
Uma interação mais rudimentar


A grande verdade que venho a falar
Pode ferir egos
Pode machucar
Mas não há como evitar:
No meu coração
Na minha alma
Há espaço pra mais de um lugar

Sei Lá

(Arte: Duarte Vitoria)
 
Sei lá, são tantas possibilidades
Tantas formas, tantas peculiaridades
Talvez eu me perco nessas atividades


Sei lá, são tantas expressões
Tantas mulheres, tantas vibrações
Talvez eu me perco em algumas emoções


Sei lá, são tantas maneiras de sentir
Tantos olhares, tantos corpos a sorrir
Talvez eu me perco em difundir


Sei lá, são tantas energias
Tantos labirintos, tantas letargias
Talvez eu me perco em alegrias


Sei lá, são tantas coisas que eu preciso aprender
Por quê eu deveria assim, de repente, me prender?
Num conceito
Num padrão
Numa ideia
Numa alienação


Sei lá, talvez alguém deva me ensinar
A ser alguém que sabe amar
Além de mim
Além do mar
Além do tempo
Desmistificar
Amar
Sem odiar
Sem sofrimento
Sem desejar
Talvez até pareça que eu não saiba amar


Sei lá, são tantas coisas
Nem sei mais o que falar
Apenas estar
Disposto, sem implicar
Desvanecendo todo esse reclamar
Que vem do medo e do próprio lar


Sei lá, são tantas coisas
Vamos vivenciar
Sem se fechar
Sem emparedar

Sei lá, só tenho a observar
Compartilhar
O que é do mesmo lugar


Sei lá, vamos parar
De se mutilar
De se culpar
Pelo que já foi
Pelo que não vai voltar

Sei lá, vamos estar
Aqui ou em qualquer outro lugar
Sem reclamar
Do que pode vir
Do que pode dissipar


Sei lá, vamos reflexionar
Sem porquê
Sem julgar
Fora do tempo
Fora de lugar
Em qualquer momento
Em qualquer lugar


Sei lá, vamos respirar
Vamos vivenciar
Sem que o amanhã precise chegar

Ricco È Essere

(Foto: Lora Zombie)
Rico é o ser
Que não se enriquece de poder
Mas de transcender
Daquilo que procurar ser


Rico é o ser
Que não sofre com o querer
Nem com o que precisa ter
É rico por simplesmente ser


Rico é o ser
Que não depende do fazer
De qualquer outro ser
Além do próprio bem querer


Rico é o ser
Que busca dentro de cada viver
Sua autonomia
Seu lazer
No seu tempo
No seu viver


Rico é o ser
Que vive a se debater
Questionando o que dói ver
Aceitando o que não pode ser


Rico é o ser
Que aceita o seu sofrer
E a necessidade de se desprender
Com empatia
Com prazer
Na Interação com cada ser


Rico é o ser
Que planta o que quer colher
Que faz de sua arte
O seu próprio ser

Aconchegue-se

(Foto: Gabriel Potter)
Aconchegue-se aqui comigo
Chegue mais perto
Não tenha medo
Sinta o vento
Sinta este momento


Aconchegue-se aqui comigo
agora olhe para o céu
E perceba esse enorme véu
Que existe diante de nós


Aconchegue-se aqui comigo
Nesse cobertor de estrelas
Nesse aglomerado de galáxias e planetas
Veja que não há separaçao
Apenas distorção
E talvez medo da solidão


Aconchegue-se aqui comigo
Tente sentir
Somos parte de toda essa incansável existência
Embora "Do pó viemos ao pó voltaremos"
Estamos em constante interação
Com tudo e com todos


Aconchegue-se aqui comigo
Olhe bem pra si mesma
E agora olhe para toda essa grandeza
Não deixe a falta de conhecimento
Ofuscar seu renascimento
Tão pouco este momento


Aconchegue-se aqui comigo
Vamos celebrar esta sintonia presente
Vamos emanar o que sabemos pra toda essa gente


Aconchegue-se aqui comigo
Chore
Desabafe
Diga o que tem que dizer
Mas não deixe de se conhecer


Aconchegue-se aqui comigo
Eu estou com você
Você está comigo
Não importa a distância
Nem o tempo


Aconchegue-se aqui comigo
Neste momento

Interagisci Con La Paura

(Arte: Christer Karlstad)
 
O medo da interação
Banaliza qualquer relação

Relação é compartilhar
Sem impor, sem implorar
Vivemos de cada momento
Incertos, jogados ao vento

E não há como controlar:
Tem gente que chegam pra ficar
Tem gente vai pra não voltar

Sem o nosso domínio
Sem o nosso controle

Do jeito que tem que ser
Do jeito de cada ser

Aqui nascemos
Aqui perecemos

sábado, 25 de julho de 2015

Energia

(Arte: Alex Grey)

Há uma energia, inquieta e intensa
Que subitamente afirma minha presença
Diante da minha e da sua inocência

Há uma energia, inquieta e intensa
Oscilando obscuramente em permanência
Dando-nos vida, mistério e eloquência

Há uma energia, inquieta e intensa
Dizendo para que todo seu ser se conheça
Através de si mesmo e da vida extensa

Há uma energia, inquieta e intensa
Sem tempo, sem licença
Dizendo "consciência"

Há uma energia, inquieta e intensa
Afirmando a minha e a sua existência
Mesmo diante de toda essa tendência

Há uma energia, inquieta e intensa
Respire fundo, não se estremeça
Não há final, não há sentença
Apenas energia, inquieta e intensa

Apenas Ser

(Arte: Lora Zombie)
Talvez esse meu ser
Que não sabe exatamente o que ser
Desde que se denomina Ser
Exista para tentar compreender
Sem tentar impor, mas talvez dizer
Através do conhecer
Da interação, da reflexão, do tato e do prazer
Não importando a linguagem ou a forma que estabelecer
Tão pouco o tempo espaço do envolver
No trajeto inevitável e linear do morrer

Talvez esse meu ser
Só pode ser
Sem mistificar, sem mentir e sem correr
Tranquilamente ser
Com calma
Vamos permanecer

Feche os olhos, respire fundo e tente compreender
Não há pra onde correr
Nem o que esconder
Talvez apenas Ser

Caminhantes do Vento

(Arte: Marieke Bosma)

Dou liberdade da mesma forma que desejo ter
Embora consciente de que nem sempre pode se estabelecer
Um relacionar libertino sem se prender
Desejo que todos os amantes possam desfrutar
Aquilo que só se vivencia sem se aprisionar
Consciente de que os mais vaidosos podem se atiçar
Mas não há como me calar
Diante de tantos a se depravar

Então me coloco aqui talvez para exclamar
Sem impor nem padronizar
Um pouco de meu inquieto pensar
Para que talvez você reflita sobre esse alienar
Feito de fuga corrosiva e achacar

Uma reflexão a se despertar:
Vamos compartilhar
Vamos nos conectar
Vamos nos experimentar
Vamos nos ensinar

E se chegar o momento de se separar
Tão temido mas tão natural no relacionar
Vamos lembrar que nada pode se forçar

Seremos sempre caminhantes do vento
Embora julgados como relentos
Voando sem nenhum tempo
Vivendo apenas este momento

Delirando

(Arte: Harry Clarke)
Delirando, delirando
É assim que a gente vai caminhando

Delirando, delirando
Cada vez mais se amarrando

Delirando, delirando
Acreditando que tudo está se arrumando

Delirando, delirando
Possuindo e acomodando

Delirando, delirando
Sem empatia, sem espírito brando

Delirando, delirando
Até parece que o sofrimento está passando

Delirando, delirando
Impondo e separando

Delirando, delirando
Corpos muito próximos se degladiando

Delirando, delirando
Almas ricas, mas distorcidamente se expressando

Delirando, delirando
Constantemente se preocupando

Delirando, delirando
Com o que já foi e não está voltando

Delirado, delirando
A gente vai se separando

Delirando, delirando
Numa distorcida crença que vem durando

Delirando, delirando
Nessa falsa imagem de si mesmo se apresentando

Delirando, delirando
Acreditando que está se elevando

Delirando, delirando
Você está babando

Aqui e Aí

(Arte: Eugenia Loli)
É nesse delirante viver
Que a gente tenta ser
O que ninguém pode ver
Tão pouco pedir
Mas talvez sentir
Experimentar
E tocar
Ter a chance de vivenciar
De eternizar
Um pouco do que somos
Do que vivemos
Do que sentimos
Através da experiência sensorial
De olhares
De silêncio
De sorrisos
De expressões corporais
De tato
De calor
De suor
De conexão
De amor
De dentro pra fora
De fora pra dentro
Neste momento
Aqui e aí
Aí e aqui

Flutuando

(Arte: Alex Simpson)


Tentamos incansavelmente
Nos tornarmos parte do presente
Embora muitos a de se trancarem
E ansiarem
Nesse delirante viver
Num passado ou num futuro imperial
Não exito em dizer
Você nasceu pra viver
Pra desmistificar
Para explorar
O desconhecido além do mar
Pra estudar a si mesmo
E ser do jeito que é
Sem mais nem menos
Naturalmente
Gradualmente
Sem forçar a alma
Presenciando está aula
Que é estar sem falar
Sem pedir
Sem exigir
Sem impor
Sem implorar
Ou padronizar
Simplesmente permanecer
Sem medo de adoecer
E do inevitável acontecer
E assim vai sendo
Você aprendendo
A ser o que é
Obscuro e singular
Consciente e vulgar
Desconhecido em si mesmo
Flutuando em qualquer lugar

A/P

Algumas coisas para serem aceitas (e praticadas):

- Coisas ruins sempre vão acontecer.

- Nenhuma pessoa pode te tornar melhor, mas pode sim clarear o seu possível amadurecimento.

- Se o que você diz ser é X, mas os fatos demonstram Y, há possibilidades de equivoco. Então desista de afirmar sobre o que você é ou não é. Uma hora ou outra você cairá em uma auto sabotagem.

- Nada dura o tempo que achamos (ou que queremos), pois o tempo não existe (rs). As coisas duram o que devem durar. Mesmo que seja inevitável querer se eternizar, vivencie este momento.

- Só conseguimos conhecer mais ou menos alguém através do convívio e da interação.
- Mostrar seu lado mais obscuro é, provavelmente, o seu maior medo, mas pense que é inevitável não nos revelarmos em contato mais intimo. Então tente, primeiramente, mostrar o seu lado mais obscuro, e se o convívio ainda existir, é provável que haja convivência.

Magnanimidade

(Arte: Kinchoi Lam)
Cada relação é única e singular
Mas muitas vezes insistimos em padronizar
O que nunca vai ser igual nem linear

Cada pessoa é única e singular
Mas muitas vezes insistimos em padronizar
O que igualmente ninguém poderá te dar

Cada experiência é unica e singular
Mas muitas vezes insistimos em tentar vivenciar
O que já se foi e que não pertence ao mesmo lugar

Não joguemos fora o que nos pertence
Não desprezemos o que nos deixe contente
Não neguemos o afeto que temos com toda essa gente
E assim vivenciemos toda essa magnanimidade finalmente

Relevante

(Arte: Alex Cherry)

No paradoxo da existência
A sincronia é uma excelência

Algumas pessoas aparecem
Ás vezes nos enlouquecem

De tantas, são poucas as que amamos
Mesmo que não as vemos mais
Um pouco de nós deixamos

São esses os nossos irmãos semelhantes
Intensas interações, ligações constantes

Mesmo se nos afastemos
Mesmo que nos distanciemos
Sabemos que cada um tem sua importância
Independente da circunstância

Onde estivermos, não importa o quanto distante
Já entedemos que nada disso é relevante

terça-feira, 7 de julho de 2015

Meio Assim

(Arte: Alice Wellinger)
Sou meio assim, indomável e perdido
Solto pelo mundo, desiludido

Sou meio assim, sem desejo de controlar
Obcecado pelo nosso olhar
Que delata o nosso estar

Sou meio assim, meio você
Não sei se você pode vê

Somos meio assim, separados
Inevitavelmente findados
Para estarmos entrelaçados

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Amores Flamejantes

(Arte: Lora Zombie)

Amores flamejantes
Inquietos e intrigantes

De perto queimamos e vivenciamos nosso calor
De longe sabemos o quanto precisamos nos dispor

Mesmo que o fogo a de se apagar
Uma hora ou outra aprendemos a nos alimentar

Do pouco que aprendi sobre essa intensa combustão
Sei que poucos são os combustíveis que causam essa explosão

E é o que venho aprendendo desde então
A não alimentar o fogo sem intenção
Sem calor
Sem louvor

Sei que muitos querem esse fervor
Mas poucos sãos os que queimam sobre o amor

Que possamos estar em chamas enquanto existentes
E que não vivamos tão apagados e descontentes

Se o fogo a de queimar por todos os cantos
Por quê então evitarmos esses encantos?

Queimemos até as ultimas brasas
Como se fossemos fogos com asas

Amores Libertinos

(Lamia Ameen)
Amores Libertinos
Caminhos sem destinos

Como tudo nesta vida
Não estão livres de nada
Apenas querem uma morada
No coração de alguém
Mas também querem espaço
Para um desenvolvimento sem laço
Sem amarras forçadas
Com o pé descalço

Mas não vamos negar os fatos
Nossas vidas são entrelaçadas
Mas se amar fosse se amarrar
Por quê então se machucar?

Nos amamos em grande louvor
Tanto em ódio como em amor
E se há um jeito de se estudar
E de aprender a vivenciar
Toda essa vida cruel e vulgar
Acredito que seja no próprio amar
No amar do próprio ser
Que vive a se sabotar
Achando que está a decolar
Quando ainda está a se afogar
Mas só se pode amar
Quando não há mais nada para se tocar
Nem se pensar
Nu e cru
Você
Seu próprio ser
Pode começar a reinar
De dentro pra fora
Energia pulsar
Inquieta e irregular
Ninguém sabe aonde vai chegar
Nem o que vai acontecer
Mas estejamos cientes
Temos que viver
E agirmos para saber

E que a vida seja a este modo
Não importa o final
Mas sim o vivencial
Se for pra se amar
Que comece a se aprimorar
Na inevitável morte linear
Que o tempo passe a ser essa poeira
Que dificulta a nossa maneira
De se tocar
De se conhecer
De se preencher
De se eternizar

Vamos caminhar
Sem medo de se acomodar
Do jeito que conseguirmos
Do jeito que necessitarmos

Vamos nos libertar
Da ignorância e desse mal estar
De querer se aprisionar
Em uma ideia popular

Se já estamos a entrelaçar
Por quê ainda esse conflitar?

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Essa Tal Segurança

(Arte:James R. Eads)

Essa tal segurança que a gente busca
Tão constante e tão presente em alma brusca
Faz a gente achar que tudo está garantido
Faz a gente achar que tudo está subindo
Mas quando inseguros
Muito antes de almejarmos nossos seguros
Tendemos a nos jogar nessa diversão
Achando que alguém ou algo poderá nos dar chão
Mas o que é a vida e o mundo se achamos que ela é resumida em luxo, conforto e boa morada?

Apenas me coloco aqui como mais um tagarela
Não desmerecendo os feitos e as grandezas do homem
Nem descreditando toda essa farta ganância que nos consome
Mas vejo a segurança como uma grande lambança

Como podem ver, sou mais uma mente tagarela
Que colhe o que planta, sem exatamente importar-se com essa balela
Balela humana de ter medo de tudo
De querer se assegurar em qualquer muro
Sem nem ao menos perceber e olhar
Que o início de uma vida segura
É morrer pro velho estar
E renascer pra vivenciar
E aprender a olhar para o ponto mais seguro
Que nunca te deixou, mas é consentido como obscuro

É, pode acreditar
Essa segurança inflada vai falhar
Mas não antes que você aprenda a se contemplar
No seu próprio chão e no seu próprio observar
Qual vai ser o seu choro e o seu lamentar?