segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Tatiturno

(Arte: Jack Vettriano)
"Era Março o mês que inevitavelmente retornara meus esforços à maquinaria da Servidão Moderna. Naqueles últimos dias de despreocupação e descontração - restando apenas alguns dias para o tão lamentável retorno - atravessara a avenida principal de nossa cidade em busca de uma condução ao meu confortável e precioso lar, clamando ilusoriamente por descanso; Era fugitivo da angústia que sucedera-me futuramente. Todavia, assim como um raio que rompe o tronco de uma árvore centenária e cascuda em milésimos de segundo. Assim como um raio que atravessa a escuridão sem permissão, seus olhos atravessaram minha alma: foi até o fundo. Força da natureza: inevitável agressividade, de única beleza, colou-nos a observarmo-nos nessa dança incerta. E desde então não sabemos o que fazer.

Retornando à Servidão Moderna, eis que nossos olhos reencontraram-se na multidão. Colocados em posições distintas no xadrez da modernidade; presos a esse enigma diante de tanta austeridade. E você, assim como eu, enclausurada e assustada com a retomada de nossa relação. Desde então, são nossos olhos - traumatizados e fascinados pela paixão - que falam por nós, sem razão. Orgulhosos e arrogantes por não findarem esse mistério intrigante, mantemos nossa dúvida até o ultimo piscar ofegante. Todos os dias, sofremos e mentimos para nós mesmos diante do espaço tempo; Por quê ainda não nos jogamos ao vento?

Eis a benção que nós, Servidores Modernos, não podemos racionalizar: a paixão! Cuja força e dimensão está além do espaço tempo. Além de nossa compressão. E mesmo assim, ainda assim, com essa nossa mania de dizer "não"...racionalização! Todos os dias, nos mutilamos e nos confundimos em busca de razão. Nos destruímos, mas já sabemos: é a natureza que, no final, leva-nos até o chão, sem polpar esforços, sem dimensão; Natureza clara, natureza em vão?

Saudades...saudades...saudades do futuro."

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